Organizada pela ADIG, realizou-se no dia 14 de Outubro a romagem ciclista à Senhora de Vagos. O tempo não ajudou e, por isso, só meia dúzia de ciclistas mais afoitos se deslocaram ao Santuário. Os restantes peregrinos viajaram de carro, ficando a capela muito composta. Ao todo deveriam estar 30 pessoas.
O acolhimento do público foi caloroso, se tivermos em conta as palmas que bateram mesmo a meio de um cântico e pelos parabéns dados no final da actuação.
Prevíamos ficar para almoçar nas mesas do Santuário mas a chuva não o permitiu. Fica para o ano.
Prevíamos ficar para almoçar nas mesas do Santuário mas a chuva não o permitiu. Fica para o ano.
Seguem-se o texto e o poema lidos na capela.
Pelo segundo ano consecutivo, aqui viemos ao encontro da fonte das nossas raízes. Daqui saíram, há mais de dois séculos, alguns dos nossos antepassados. Essa gente de rija têmpera, que foi em busca de melhor vida, em momentos de maior aflição unia-se em preces fervorosas à Nossa Senhora de Vagos e assim encontrava o lenitivo para as suas maiores canseiras, que muitas eram noutros tempos. Mesmo vivendo por lá, até certa altura aqui se casavam, aqui baptizavam os seus filhos e aqui eram enterrados. Por aí vinham, alguns pelo “carreiro do meio”, outros pelas dunas palustres, desabrigadas, ou em barcos pelo Rio Boco acima. Assim foi até 31 de Dezembro de 1853.
Toda essa gente, destemida, sempre com muita freima, soube transformar dunas estéreis em terrenos de pão, o que na altura ficou conhecido por “Milagre da Gafanha”.
É em nome daqueles que há muito nos deixaram que aqui viemos em romagem como em tempos pretéritos faziam, a pé, de alcofa à cabeça, os nossos familiares.
Muito obrigado, Senhora de Vagos, por todo o consolo que lhes deste.
A nossa actuação começa com um poema de Ercília Amador, sob o título “As Mãos da Nossa Gente”, que retrata bem o viver de outros tempos.
Depois deste belo poema, lido por Cristina Araújo, continuaremos a nossa actuação com a guitarrada “Variações em Ré Menor”, de Jorge Tuna, e três fados de Coimbra. O primeiro, da autoria de Luis Goes, intitula-se “Rezas à Noite” e é interpretado por mim. Em seguida, ouviremos “Igreja de Santa Cruz”, cantado por Nelson Calção. Para finalizar, o Rogério Fernandes cantará o fado secular “Nossa Senhora de Vagos”, de Armando d’Eça.
A encerrar esta parte musical da manhã, actuará o Grupo Coral da Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, cantando três canções: “Saudade”, do cancioneiro açoriano; “Bairro Negro”, de José Afonso; e “Milhões de Barcos”, música de Cartagena e letra de Manuel da Fonseca.
Assim, em união espiritual com os nossos antepassados, e sob a protecção da Senhora de Vagos, comecemos a nossa actuação musical.
AS MÃOS DA NOSSA GENTE
Sem descanso ou interrupção,
Da praia fizeram chão.
Provaram do mar o sal,
Da ria o travo e o moliço.
Leiras de terra cavaram.
Cricos e navalhas colheram.
Barcos e casas ergueram
E todos se ajudaram.
Caminhos árduos rasgaram,
E no mar muito forcejaram.
Angústias e dores sofreram,
Feridas e mortes aguentaram.
Penaram...maus tratos passaram,
Mas parar...nunca pararam.
E a nossa terra moldaram!
São mãos que cavam,
Que colhem e que semeiam.
Mãos que pescam e que remam,
Que bordam e que ponteiam.
Mãos que enfardam, que volteiam,
Que amassam, cozem e salteiam.
Mãos que conduzem a traineira,
Ou que calafetam a bateira.
Mãos que pintam, bordam e costuram,
Que tecem, bordejam, colhem e forcejam.
Mãos que acariciam os filhos,
Que avançam com seus cadilhos.
Mãos que conduzem, ensinam e amparam,
Que acenam, consolam e afagam.
Mãos que comandam a lida.
Mãos que modelam a vida.
Mãos enrugadas, calejadas,
Batalhadoras e magoadas,
Algumas jovens, sonhadoras...
Outras cansadas, sofredoras.
São as infatigáveis obreiras,
Os pilares do nosso chão.
São as mãos da nossa gente,
O milagre da criação.
Ercília Amador