11 de novembro de 2011

FORTE DA BARRA

Ouvia-se dizer que tanto a CMI como a APA tinham a intenção de deitar abaixo o casario antigo do Forte. Segundo a "Nota Informativa da CMI n.º36", vai ser criado um "Plano de Intervenção para a Reabilitação do Forte da Barra". Por tal motivo, a ADIG entendeu por bem fazer o documento histórico que passamos a dar a conhecer aos nossos conterrâneos, já depois de o termos feito chegar à Câmara Municipal de Ílhavo e à Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré.

FORTE DA BARRA – ZONA HISTÓRICA

Através da Nota Informativa n.º36, de 19 de Setembro de 2011, tomámos conhecimento da existência de um “Plano de Intervenção para a Reabilitação do Forte da Barra”, numa parceria entre a Câmara Municipal de Ílhavo e a Administração do Porto de Aveiro. Parabéns pela sensatez. É que o Forte da Barra foi o primeiro lugar da freguesia onde existiu um aglomerado de casas devidamente urbanizado, já com rede pública de abastecimento de água, coisa inédita por aqui noutros tempos.

Há escritos que comprovam a permanência da Aviação francesa, em S. Jacinto e no Forte da Barra, nos últimos meses da I Grande Guerra Mundial (1914-1918). E assim, este lugar da Gafanha, não só por razões geográficas, ficou estreitamente ligado a S. Jacinto e ao mundo. A construção pequena, pintada de amarelo-ocre, com aduelas brancas e portas azuis, funcionou como Casa do Telégrafo destinada informar os hidroaviões que amaravam e descolavam nas águas mansas da ria. 

Casa do Telégrafo

O casarão de 1.º andar, também de cor ocre e aduelas brancas, funcionou como Comando da Aviação Naval. Por que não aproveitar-se este edifício para Museu do Ar, Casa da Música, Casa da Juventude, etc., etc.? 

Comando da Aviação dos Franceses

Também noutros tempos se faziam excursões à Aviação para ver de perto os hidroaviões e visitar as oficinas, na altura das mais modernas do país. Foi nos Traveses, igualmente conhecidos por “praia dos tesos”, que Sacadura Cabral testou o hidroavião que faria parte da primeira travessia aérea do Atlântico, de Lisboa ao Rio de Janeiro. A comprovar tal facto, num documento escrito em Fevereiro de 1921 pelo ilustríssimo aviador, pode ler-se:
           
      – “Com a violenta nortada que fazia e auxiliado pela mareta que se tinha formado na Ria de Aveiro, o hidroavião descolou como nunca o vira descolar” (in A Mística de Aveiro na Aviação Naval, do Cap. Joaquim Duarte).

Pelo que acabamos de constatar, a zona do Forte da Barra, e todo o seu casario, ao contrário do que já foi apregoado, é um relicário histórico da Gafanha da Nazaré e também da Aviação Naval portuguesa. Há que saber preservar este local. Tudo indica que assim venha a acontecer, pois por ali ainda se sente o pulsar dos tempos pretéritos, as canseiras dos que por aqui labutaram para chegarmos onde chegámos. Por tal motivo, é de bom senso reabilitar-se o que existe, ou até mesmo demolir-se e reconstruir-se tudo como está, para os vindouros ficarem a conhecer um pouco das suas raízes. 
Atrevemo-nos a perguntar: por que as autoridades competentes não intervieram atempadamente para evitar chegar-se àquele estado calamitoso?! Por que não houve o cuidado de preservar aquele lugar, como se fez na Costa Nova? E se chover em demasia e algumas paredes caírem o que acontecerá daí para diante? Recusamo-nos admitir o que por aí se apregoa: “quem manda gizou esta estratégia para que tudo o que existe à volta do forte ruísse”! Só corações muito empedernidos seriam capazes de mandar deitar abaixo uma coisa que é tão nossa. Que a Nossa Senhora dos Navegantes ilumine quem governa, para serem tomadas as medidas mais atiladas para aquele lugar. Deste modo, criava-se mais um pólo de atracção turística, que serviria de apoio ao Porto de Aveiro, e não só.

Pelo que se constata, o casario do Forte é uma Zona Histórica da Gafanha da Nazaré, que complementaria o tão visitado Jardim Oudinot, podendo mesmo funcionar como ponto de diversão alternativa à Barra, onde por vezes é tão difícil chegar. E, por que não, aproveitar-se o R/C do “Castelo da Gafanha” para café, ou restaurante, dando vida à noite num local quase desabitado? E mais: mantendo-se a traça das fachadas das casas que ladeiam pelo Norte a torre do forte, poderia criar-se o Museu da Gafanha da Nazaré – há tanto tempo em falta na nossa terra – ou uma Pousada de Portugal, ou Oficinas de Arte, ou qualquer outra alternativa que sirva para melhorar a qualidade de vida dos gafanhões. O Forte da Barra, caso haja vontade política para isso, será de uma riqueza incalculável para o concelho. É quase um presépio, em ponto grande...

Fica à consideração da Câmara Municipal de Ílhavo, da Administração do Porto de Aveiro e da população da Gafanha da Nazaré que também deve ter uma palavra a dizer sobre este assunto.



                                                                                Júlio Cirino
                                                                        (Presidente da ADIG)


6 comentários:

  1. Concordo plenamente! É uma pena não aproveitarmos tudo o que fez parte na nossa história preservando o nosso património e dando a conhecer à população factos desconhecidos praticamente pela maior parte das nossas gentes!

    Aldina

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  2. Hoje, dia de S. Martinho, chove copiosamente...
    Como seria o Mundo se o espírito do lendário S. Martinho se encontrasse em cada esquina...
    Foi com regozijo que li a notícia sobre o Forte.
    Dada a sua história e, de modo especial, a sua localização, tudo leva a crer que os nossos técnicos olhem para este espaço como local privilegiado para actividades ligadas ao MAR!
    A ADIG está de parabéns!
    Manuel Olívio

    Um abraço

    Manuel Olívio

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  3. A zona do Forte da Barra é o único local da Gafanha da Nazaré onde se podem vêr as mais velhas construções do seu passado. E estão numa área de grande apetência turística e de lazer.
    Tudo o que ali for feito no sentido de preservar o passado histórico do local será uma mais valia para o concelho de Ílhavo e a Gafanha da Nazaré. Vamos torcer para que quem tem nas mãos o poder de decidir seja iluminado por algo que se transforme num futuro mais risonho para a nossa terra.
    Parabéns ao Cirino pelo artigo histórico que escreveu.

    João Marçal

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  4. Parabéns Júlio Cirino pela resenha histórica feita à volta deste assunto. Ela poderá servir para motivar e responsabilizar as autoridades competentes e para despertar o interesse da população da Gafanha da Nazaré para o que resta do seu património histórico.

    Um abraço

    A. Cravo

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  5. Gostei muito deste artigo! Parabéns Cirino! Concordo plenamente! Acho que ninguém consegue ficar indiferente àquele lugar paradisíaco!
    Graça Oliveira

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  6. Parabéns pelo rico historial do Forte da Barra.
    Pena que as autoridades que tutelam aquelas relíquias (JAPA, APA) nunca tenham sabido (ou querido...) preservá-las. Não lhes dizem nada, não lhes doi. Desde há muitos anos que são sempre estranhos mas, principalmente, indivíduos de sensibilidade empedernida, que têm estado à frente daquele Organismo. Só lhes interessa deixar apodrecer tudo, para depois ser nomeada uma qualquer comissão que, sem qualquer dificuldade, dirá que não há recuperação!...
    Que nos sirva de lição o que aconteceu ao antigo Esteiro de Oudinot, por muitos conhecido como "A Borda".
    Em tempos, há cerca de 15 anos, foi apresentada aos responsáveis, uma proposta para a criação do Ecomuseu da Ria (com as aves, os peixes, os moluscos, o junco, a caniça, o moliço, etc, etc), naquelas instalações, desde que disponibilizadas para a Autarquia.
    Fiquei na dúvida se tinham apreciado a proposta. A verdade é que nunca deram uma resposta!...
    E o resultado está à vista de todos... Nem uma lata de tinta que desse outro aspecto aquele Forte e ao casario...

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