27 de setembro de 2012

ASSEMBLEIA DE FREGUESIA (Limites Administrativos da Gafanha da Nazaré)


Eis-nos chegados a um acto de grande responsabilidade, que consiste em definir, oficialmente, onde se fixarão os limites administrativos da nossa freguesia. Este processo, quando era preciso andar a alta velocidade, andou a passo lento de caracol. Agora é-nos apresentado, quase como facto consumado, para ser votado a toda a pressa! Mesmo o próprio presidente da Junta, que ainda na última Assembleia de Freguesia nos disse que nada era tratado sem primeiro dar conhecimento à população, vê-se agora ultrapassado por uma medida injusta que o deixa refém da sua palavra.

O que a CMI nos propõe, é aceitarmos, de bom grado, uma freguesia amputada de algumas zonas há um século consagradas à Gafanha da Nazaré pelo “Auto de Delimitação da Freguesia”. Por que razão este documento oficial foi ignorado pela autarquia?!

Todos sabemos que o documento que hoje vai a votação há muito anda a ser concebido pela CMI e seus pares. A Câmara, por querer saborear as suas glórias sozinha, trabalhou na sombra durante largos meses. Agora tudo faz para que não tenhamos tempo para raciocinar como deve ser sobre este tão delicado assunto.

Perguntamos: quantos dos colegas que aqui estão hoje, na bancada do seu partido, para decidir os nossos destinos, tiveram tempo de ir ao local verificar o que nos está a ser proposto? Quem ainda não o fez, quando chegar à altura de se pronunciar, estará em condições para votar em consciência, ou sentir-se-á um vendido a outros interesses que não são os da terra que nos acolhe? Já ouvi dizer: “então, que se há-de fazer?! Temos de aceitar o que nos está a ser proposto. Caso contrário, nem daqui a trinta anos este assunto estará resolvido!!!” Quem assim pensa, desculpem, não será a pessoa mais indicada para aqui estar! Este é um assunto muito sério para ser tratado com tanta ligeireza.

O povo da Gafanha da Nazaré, que acreditou em nós para a defesa dos seus interesses, não se sentirá defraudo por aceitarmos apenas um quinhão da parcela que por direito próprio nos pertence? E, se possível for assim acontecer, como se sentirão os nossos antepassados, aqui presentes em espírito, se não soubermos defender, com denodo, o legado que eles com tanto amor e tantas canseiras nos deixaram! Pelos menos, saibamos ser dignos da sua memória...

Depois deste preâmbulo, passemos a analisar o documento de trabalho posto à nossa consideração para delimitação da freguesia, que, diga-se, contém aspectos muito positivos. Concordamos com o traçado entre a Barra e a Costa Nova (antes da curva da Biarritz).

Verifica-se, com agrado, a manutenção na nossa freguesia do Santuário de Schoenstatt e do Complexo Desportivo do GDG, contrariando o que erroneamente tinha sido colocado nos mapas do IGP e CAOP. Porém, o traçado apresentado pela autarquia para esta zona é um verdadeiro labirinto, por não respeitar a rede viária existente, ziguezagueando, por entre os pinheiros, para além da carta não referir os nós de viragem com coordenadas GPS, o que indicia que quem fez este estudo não foi lá muito feliz.

Do lado sul-nascente é que temos o grande problema! Todos se lembram dos sucessivos recuos da placa indicativa dos nossos limites: primeiro na rotunda da SIMRIA; depois pelo acampamento dos ciganos; e mais tarde um pouco a sul da Casa da Remêlha, isto é, sempre a cortar para o mesmo lado. Nós propomos que os limites do lado da Remêlha partam do extremo nascente da rua Eng.º Vasco Leónidas (junto à rotunda da SIMRIA) e seguir, sempre em recta, até encontrar a Circular das Bichaneiras, no nó 6.

Se os limites que nos estão a ser apresentados vierem a ser aprovados, sentimo-nos vilipendiados, por a nossa área inicial rondar os 20Km2, querendo agora a CMI atribuir-nos, apenas, 16,44Km2. Porquê?! Com a alteração que propomos, passaríamos a ter 17,64Km2, ainda longe da área inicial, com a vantagem de preservarmos o Centro de Recursos Mãe do Redentor, pertencente ao Centro Social e Paroquial da Gafanha da Nazaré. Por certo, esta seria uma boa prenda para os Gafanhões e para o Padre José Fidalgo.

Pelo que se sabe, a CMI propõe-nos uns limites inegociáveis, mas em democracia as coisas não funcionam assim! Quem tem o direito de decidir os nossos destinos são os Gafanhões. O que nos estão a tentar fazer é um acto reprovável nesta sociedade que se diz democrática. E mais, se esta Assembleia de Freguesia não é vinculativa, segundo o parecer da CMI, o que estamos nós todos aqui a fazer? Esta lei, venha ela de onde vier, está a fazer de nós simples palhaços e nós não admitimos palhaçadas destas.

Mesmo com as leis todas contra a nossa vontade, compete-nos pelos meios legais postos à nossa disposição, defender com unhas e dentes os interesses dos Gafanhões.

Dado haver ainda algumas imprecisões no documento que nos foi apresentado para estudo, propomos que a votação deste assunto seja adiada por oito dias, para que, conjuntamente, os membros dos três partidos com assento nesta Assembleia de Freguesia, façam, no local, um estudo aprofundado ao que nos está a ser proposto. Só assim poderemos votar com a consciência do dever cumprido. Não pedimos que se chumbe ou aprove este projecto. Pedimos, sim, que nos dêem mais uma semana para podermos decidir, com consciência, o que é melhor para a nossa Terra. Dizemos mais: se as coisas, um dia, vierem a correr para o torto, quem nos governa sacudirá a água do capote, dizendo: foi votado na Assembleia de Freguesia. E aí, os maus da fita, seremos nós.

Senhora Presidente desta Assembleia, por amor de Deus lhe rogo, faça fazer valer a nossa força, e não nos venha com a desculpa já gasta de que o nosso pedido é inviável, por amanhã haver Assembleia Municipal! E que culpa tivemos nós das coisas nos chegarem tão tarde às mãos? Sendo a estrutura camarária altamente profissionalizada, para além de tão bem remunerada, por que se teria atrasado tanto?

Por tal motivo, se aceitarmos, às cegas, a proposta da CMI, para além de não ser de bom tom, consideramos um acto de prepotência que só será aceite por aqueles que não amem, como deve ser, a sua Terra...

Viva a Gafanha da Nazaré, “feita pelos nossos avós...”.

Gafanha da Nazaré, 26 de Setembro de 2012
Júlio Cirino da Rocha (Membro do PS)